Li esse texto no blog Cachos e fatos de Sabrinah Giampá e decidi compartilhar com vocês. Vejo essa pressão, sobre as mulheres, para possuírem cabelos longos. Eu acredito que temos que ser livres pra decidir o cabelo que queremos e devemos ser respeitadas por nossas escolhas. Leia o texto abaixo e você vai se identificar.
A CULTURA DO CABELO LONGO E SEUS EFEITOS:
Por que é tão difícil encarar o big chop?
Percebo que a maioria das
mulheres sofrem com a transição capilar mais do que o necessário por uma única
razão: o medo de abrir mão do comprimento do cabelo. Muitas aguentam duas texturas distintas por
mais de um ano, aguardando que o cabelo natural crescido atinga um tamanho
‘socialmente aceitável’ para o grande corte. E com isso, passam por uma longa
fase de tortura, e baixa autoestima, sem conseguir se desfazer dos elásticos,
chapinhas e afins. Afinal, o cabelo comprido é sinônimo de cobiça, para a grande
maioria, que acredita fielmente que se abrir mão do comprimento estará abrindo
mão também da sua feminilidade e sensualidade. Mesmo que na maior parte do
tempo, use este cabelo comprido preso, devido ao seu estado deteriorado por uma
infinidade de químicas agressivas.
Noto também que muitas mulheres
que optam pelo big chop total, dão início a uma contagem regressiva de
crescimento logo após o término do corte, buscando todas as receitas
‘milagrosas’ de crescimento possíveis e medindo os fios em centímetros a cada
semana. E deixam de aproveitar a fase maravilhosa do cabelo curto em
crescimento.
A socióloga Cláudia Sciré nos
explica de forma detalhada: “Se formos considerar a estética feminina como uma
construção cultural que muda com o passar dos tempos, perceberemos como as
representações do corpo da mulher, de seus gestos e modos de ser e de se
apresentar na sociedade tem sido constantemente marcados por categorias que as
opõem aos homens e ao mesmo tempo marcam seu lugar de inferioridade.” Vide
propagandas de cerveja que nos transformam em acompanhamentos cosmetiveis e
saltos tão altos que limitam nossos movimentos.
“Na etapa de capitalismo tardio
que vivemos, percebemos como essas categorias, que têm sido construídas para a
manutenção da ordem patriarcal, são usadas pela publicidade com o intuito não
só de conformar um mercado da beleza e da estética que não para de crescer, da
mesma forma que fragmenta e assim silencia o corpo da mulher, que fica cada vez
mais inerte”, explica.
Os cabelos enquanto uma das
partes mais visíveis desses corpos fragmentados têm sido usados na nossa
estética, principalmente Brasil, juntamente com outros ‘pedaços’ (bunda, seios,
boca etc.) para comunicar o gênero feminino numa narrativa construída para
colocar a mulher num espaço cultural simbólico que muitas vezes desemboca na
dominação. Segundo a socióloga, a ditadura do cabelo liso e longo faz parte um
conjunto de representações que contribuem para um esvaziamento das
multiplicidades que compõem o ser mulher,
transformando isso em algo naturalizado, como se o cabelo longo fosse
naturalmente um atributo associado ao ser feminino.
“Esses elementos discursivos
geram e alimentam padrões ideais. Assim os cabelos compridos fazem parte de um
mosaico de ideias que vão criar uma imagem de mulher que agrada ao capitalismo
atual: mulher que se crê independente e poderosa, pois consome tempo e dinheiro
para se fortalecer enquanto mais feminina, mas ao mesmo tempo, reforça feixes que contribuem para a sua
constante submissão a imagem de si mesma, que foi imposta de fora e por padrões
masculinos e do mercado.”
O tempo que uma mulher precisa
investir para manter o cabelo longo bem cuidado, acaba a privando de investir
em si mesma, e usar seu tempo para desenvolvimento pessoal e até mesmo para o
lazer. Enquanto homens conversam com os amigos em uma mesa de bar, ou fazem uma
pós graduação, leem um livro interessante, esta mulher perde um tempo precioso
para se dedicar apenas ao cabelo. Isso sem contar o dinheiro investido em
cosméticos e alisantes, que cá entre nós, a indústria cosmética agradece.
Quando fiz meu curso de
visagismo, somei à minha especialização em semiótica, uma visão ainda mais
apurada do quanto nossa imagem pode ser mal interpretada. Conheço muitas
mulheres inteligentes e bem articuladas, que acabam sendo engolidas no mercado
de trabalho, não apenas pelo machismo do mundo corporativo, mas também por
apresentar uma imagem equivocada, incapaz de transmitir suas reais habilidades
e capacidades, ou seja, que diz algo diferente sobre si mesma e não faz jus a
pessoa que ela realmente é.
Geralmente, quando a mulher
precisa passar mais credibilidade no trabalho, sempre sugiro se desfazer do
cabelo longo. Não necessariamente um corte curtíssimo, mas pelo menos na altura
da clavícula, e sem franjinha reta, pois a testa a mostra nos revela
inconscientemente o quanto esta mulher valoriza o seu intelecto, o que a torna
mais altiva. E a franjinha reta infantiliza. Agora franjas laterais transmitem
dinamismo e são super bem vindas.
Nada contra os fios longos, mas o
foco interpretativo destes é outro. Transmite, na maioria das vezes, apenas uma
imagem ligada a sensualidade e dependência, como se aquela mulher precisasse
daquele escudo, de uma proteção, e que seus cuidados com a aparência fossem
mais importantes que os cuidados com o seu desenvolvimento pessoal, mesmo que,
na grande maioria das vezes, isso não seja uma verdade.
De acordo com o mestre do
visagismo, Philip Hallawell, que foi o meu tutor no curso, os cabelos soltos
significam disponibilidade e falta de compromisso. “Os cabelos longos expressam
submissão e dependência, que pode ser emocional, financeira ou social, porque,
como qualquer imagem, são compostos de linhas e formas, que têm significados
universais e criam uma dinâmica visual. Toda linha do cabelo, abaixo do lóbulo
da orelha, tem uma dinâmica visual para baixo, em direção ao chão, o que sugere
que busca o apoio do solo. Por isso o cabelo longo é pesado e expressa dependência
e necessidade de apoio. As linhas do cabelo curto direcionam o olhar para cima
e expressam leveza e independência. O cabelo na altura do ombro é neutro.”
Para Phillip, a mulher de cabelos
longos e soltos expressa disponibilidade e dependência, que apela aos instintos
masculinos de dominação e conquista sexual. “O ato mais sedutor da mulher é
quando solta os cabelos longos presos para um homem, porque se submete a ele.
Esse é o maior poder de atração que esse tipo de mulher tem. Mas, fica a
pergunta: depois que atraiu o homem dessa maneira, como continuará o atraindo se
não há mais o encanto da conquista e da submissão?”
Ter o cabelo curto é um processo
extremamente libertador. Não apenas pela praticidade, mas pela possibilidade de
nos ‘desnudarmos’ daquele escudo que o longo proporciona. Pela possibilidade de
deixar nosso rosto em evidência, o que mostra que esta mulher não tem motivos
para se esconder e nem receio de expor suas ideias. Ou seja, transmite
independência.
Entre os comentários que recebo
após a publicação das fotos de big chop, o principal é este: – Que coragem!
(Como se a mulher tivesse amputado um braço). Ou então: -Seu rosto é bonito,
fique tranquila que o cabelo irá crescer longo – que é como se aquela mulher
precisasse dos fios longos para se impor como mulher na sociedade, o que é um
pensamento extremamente medíocre para os dias de hoje.
O importante é curtir todas as
fases, inclusive a do curto, sem a ansiedade do crescimento e sem a necessidade
de se esconder com acessórios, que vejo também na maioria dos comentários: –
Passa um batom vermelho (mesmo que não faça parte do estilo da pessoa usar esta
cor de batom) – Bota um brincão! – Use um turbante!
Não que eu condene este tipo de
artifícios. Acho bonito, e pode valorizar a beleza da mulher, mas depende muito
do estilo e da mensagem que ela gostaria de transmitir. Mas o que gostaria de
ressaltar é que os acessórios tem que ser uma opção e não uma obrigação para
esta fase. Não, você não precisa deles para passar por esta fase, mas pode
usá-los quando estiver com vontade de criar um visual diferente ou quando
sentir necessidade, mas não como um escudo.
Espero que tenham gostado, e que a partir de hoje você assuma seu cabelo lindo, seja feliz da maneira que você gosta, não fique triste ou chateada com os comentários desnecessários de certas pessoas. Levanta a cabeleira e vai se amar que é o melhor que podemos fazer por nós mesmas. beijoo feliz Ano Novo atrasado.
Puxa, muito obrigada. Obrigada mesmo.
ResponderExcluirEu penso nisso há tanto tempo, mas achava que era só coisa da minha cabeça. Quantas vezes eu ouvi de homens que eu não devia cortar cabelo, que homem gosta de cabelo assim, assado. Uma vez, um amigo disse que só ficaria comigo se eu cortasse franja e ficasse loira.
Nunca gostei de ter cabelos compridos, só tive quando criança. Desde adolescente, eu mantinha na altura do queixo e dos ombros até que uma vez desapeguei e cortei na máquina três. Perguntaram se eu estava doente, se eu tinha sido presa e se meu namorado deixava. Olha, na boa, se um homem me disser que não gosta que eu corte meu cabelo, eu corto na frente dele com a faca de mesa mesmo.
Já vi mulher chorar em salão de beleza porque o cabeleireiro cortou 1 dedo a mais e agora o marido não ia mais gostar dela. Tive um ex- que contou que quando a mãe cortou o cabelo curto, o pai ficou sem falar com ela um mês. E uma vez um cara me falou que adora mulher de cabelo comprido, pois quando ela fica de quatro ele pode agarrar e ela não tem como fugir. Ou seja, dominação, dominação, dominação.
Nem todo mundo que tem cabelo comprido o tem por causa da dominação patriarcal ou porque quer se sentir sensual.Também é uma forma de querer rotular a mulher ao dizer que para ser respeitada em um mundo de homens deve cortar os cabelos. Conheço mulheres fortes em posição de comando com lindos e longos cabelos e mulheres em posição de comando com lindos e curtos cabelos. Isso sem falar nas mulheres de diversas religiões que não cortam os cabelos devido a isso, e não só evangélicas, os sikhs, por exemplo. Nem homens e mulheres cortam os cabelos. O mundo deveria excluir essas pessoas de cargos de comando seguindo sua visão radical. Nós mulheres temos que nos unir não julgar as outras que continuam a utilizar um produto químico no cabelo ou não querem corta-lo. Tem gente que realmente gosta do cabelo com relaxamento, e gosta do cabelo longo,não porque é dominada pelo patriarcado. Olha isso, "Esse é o maior poder de atração que esse tipo de mulher tem". Então, você acha mesmo que um homem só vai gostar de uma determinada mulher enquanto os cabelos dela forem longos? Então, esse homem não lhe serve, só isso. De certo, agora, todas temos que cortar nossos cabelos para testar se os homens são realmente fiéis ou se só amam nossos cabelos. Se você está feliz com seus cabelos curtos, ótimo para você, mas não venha julgar as mulheres que não querem o mesmo. Essa postura radical só afasta outras mulheres da causa defendida e não aproximam.
ResponderExcluirPerfeito seu comentário! Concordo em gênero, número e grau. Amo o meu longo e nem de longe sou submissa ou o tenho por causa do patriarcado. Muito pelo contrário. Meu perfil é extremamente controlador e dominador. E sei muito bem que meu cabelo não me define. Conheço diversas mulheres que usavam longo e amavam, mas aí aderiram ao curto e agora vivem criticando quem ainda quer usar o longo. Isso me irrita ao extremo.
ExcluirOntem eu assisti o filme argentino Leonera. O amadurecimento da personagem Julia está diretamente ligado às mudanças no cabelo dela.
ResponderExcluirEu que já tive cabelo de todas as formas e tamanhos possíveis já experimentei tudo que foi descrito no texto. Por modismo e cultura, sempre fui adepta dos cabelos longos até o início da minha fase adulta, quando comecei a admirar e muito as mulheres de cabelo curto, pois elas me passavam exatamente isso: independência, segurança, auto estima elevada e claro, a fuga dos padrões.
ResponderExcluirCrescer e amadurecer me fez querer ser assim: fugir dos padrões. Foi quando, por caminhos da vida, passei pelo processo de big chop da maneira mais impaciente possível: raspando tudo. A ideia de me ver careca, a sensação e a imagem de outras mulheres carecas me fascinaram tanto que resolvi raspar. A sensação do novo, do ousado, da nova experiência foi muito maior do que qualquer medo de que eu ficasse feia ou do que os outros poderiam falar. Quando raspei parece que ali nascia uma outra mulher.
E assim como falado no texto, teve de tudo: minha família que ficou sem falar comigo durante 1 semana a comentários tipo "que coragem" .. ou "ah, mas você tem um rosto bonito" (como se precisasse de rosto bonito pra fazer ou não algo ..) e também muitos e muitos olhares pelas ruas. Mas por algum motivo que não sei explicar, eu estava me sentindo tão poderosa, com a auto estima tão elevada que nada me abalou.
Depois dessa experiência ainda retornei aos longos novamente (agora com tranças) e percebi que a abordagem com os meninos era completamente diferente. Com cabelo curto ou quase nenhum, mal recebia olhares e com minhas tranças longas, batendo quase na cintura, lá estavam os olhares novamente.
Passou a época das tranças. Enjoei delas e retornei ao curto. Agora com uma saudade imensa da cabeça raspada novamente. E quanto aos boys é o que penso: não quero alguém pra mim que me ame pelo que eu tenho na cabeça (ou ausência) e sim pelo que sou. E vai ser esse boy que eu vou querer pra mim.
"Mulheres que não se depilam são nojentas!"
ResponderExcluir"Mulheres de cabelo longo são submissas!"
Parece que a vontade de definir a mulher por sua aparência continua a todo vapor, em todos os espaços...
PS: meu cabelo é curto, mas resolvi deixar crescer com todo carinho. Não vou ser submissa por causa disso, nunca fui, nunca serei. Minha aparência NÃO DEFINE minha personalidade!!!
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