Há pessoas que engolem sapos por medo. Bem que seria possível evitar a repulsiva
refeição: o sapo é um sapinho. Mas elas preferem engolir o sapo a enfrentá-lo.
Não têm coragem de pegá-lo e jogá-Io contra a parede. Pessoas que fizeram do
ato de engolir sapos um hábito acabam por ficar parecidas com eles: andam aos
pulos, sempre rente ao chão e coaxam monotonamente.
Mas há situações em que é inevitável engolir o sapo. Eu
mesmo já engoli muitos sapos e disto não me envergonho. O meu desejo, com esta
crônica, é dar uma contribuição ao saber psicanalítico, que até agora fez silêncio
sobre o assunto. Muitos dos sintomas neuróticos que afligem as pessoas resultam
de sapos engolidos e não digeridos.
Tudo começa com um encontro: à minha frente um sapo enorme,
ameaçador, com boca grande. A prudência me diz que é melhor engolir o sapo a
ser engolido por ele. É melhor ter um sapo dentro do estômago (sapos engolidos
nunca vão além do estômago) do que estar no estômago do sapo.
Aí, impotente e sem opções, deixo que ele entre na minha
boca, aquela massa mole e nojenta. É muito ruim. O estômago protesta, ameaça
vomitar. Explico-lhe as razões. Ele cessa os seus protestos, resignado ao inevitável.
Não consigo mastigar o sapo. Seria muito pior. Engulo. Ele escorrega e cai no
estômago.
Alimentos não digeríveis são eliminados pelo aparelho
digestivo de duas formas: ou são expelidos pelo vômito ou são expelidos pela
diarréia. Os sapos são uma exceção. Não são digeridos mas não são expelidos nem
pelas vias superiores nem pelas vias inferiores. Os sapos se alojam no
estômago. Transformam-no em morada. Ficam lá dentro. Por vezes hibernam. Mas
logo acordam e começam a mexer.
(Rubem Alves)
Queria que com essa mensagem, você aprende-se que as vezes é melhor jogar o sapo na parede, do que tê-lo dentro de você, te matando os poucos. Beijoo
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